Última Carta à Theo ( Van Gogh)

Gosto das várias biografias sobre Van Gogh, esse personagem sempre me inquietou. Lembro que anos atrás passava tardes inteiras me deliciando com uns livros antigos do meu pai. Um dia ao virar a página de um desses livros me deparei com uma imagem de fundo alaranjado, com um homem fumando cachimbo, um olhar pertubador e com a orelha enfaixada. Aquela imagem ficou semanas na minha cabeça... Eu queria saber mais e mais sobre ele. Ao mesmo tempo que aquela imagem me dava uma sensação de medo e angústia, também despertava a minha curiosidade. E foi assim que me apaixonei. Minha admiração vem aumentando cada vez que pego algo sobre sua vida e obra.
Van Gogh, em toda sua existência, se mostrou um ser misterioso e incompreendido, prova disso está nas cartas ao seu irmãoTheo. Esta, foi atribuida como a última:


"Nunca me preocupei em reproduzir exatamente aquilo que vejo e observo. A cor serve para me exprimir, Théo: amarelo terra, azul corvo, lilás sol, branco pomar, vermelho Arles... Sulfurosas cores cintilando sob o mistério das estrelas na profunda noite afundadas onde me alimento de café, absinto, tabaco, visões e um pedaço de pão, Théo, que o padeiro teve a bondade de fiar. O mistral sopra mesmo quando não sopra, os pomares estão em flor, o mistral torna-se róseo nas copas das ameixeiras, Arles continuou a arder quando tentei matar aquele que viu a minha paleta tornar-se límpida, mas acabei por desferir um golpe contra mim mesmo. 
Théo, cortei-me uma orelha e o mistral sopra agora só de um lado do meu corpo, os pomares estão em flor e Arles, Théo, continua a arder sob a orelha cortada...
Por fim Théo, em Auvers voltei a cara para o sol apontando o revólver ao peito, senti o corpo como um torrão de lama em fogo regressar ao início num movimento de incendiado girassol."